Removidos em Barão de Cocais rejeitam prazo da Vale para concluir mudanças para casas alugadas

Moradores das comunidades vizinhas à barragem Sul Superior removidos de suas residências há 40 dias pela Vale reagiram mal à informação de que poderão ficar por até mais três meses em hotéis de Barão de Cocais e cidades vizinhas. O prazo foi estipulado pela mineradora em reunião pública na manhã desta segunda-feira, no ginásio esportivo […]

Removidos em Barão de Cocais rejeitam prazo da Vale para concluir mudanças para casas alugadas
Líder comunitária Izabel Batista falou em nome de removidos – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato|Moradores fizeram questionamento à Vale – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato|Moradores fizeram questionamento à Vale – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato|Moradores fizeram questionamento à Vale – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato|Moradores fizeram questionamento à Vale – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato|Moradores fizeram questionamento à Vale – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato||Reunião envolveu políticos e comunidades – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato|Reunião envolveu políticos e comunidades – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato|Reunião envolveu políticos e comunidades – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

Moradores das comunidades vizinhas à barragem Sul Superior removidos de suas residências há 40 dias pela Vale reagiram mal à informação de que poderão ficar por até mais três meses em hotéis de Barão de Cocais e cidades vizinhas. O prazo foi estipulado pela mineradora em reunião pública na manhã desta segunda-feira, no ginásio esportivo do Creas, no bairro São Miguel, promovida pela comissão externa da Câmara Federal que analisa o cenário da mineração no país.

O prazo de 90 dias foi informado pela gestora de Relações Institucionais da Vale, Flávia Soares. Ela afirmou que até o fim desse período a empresa espera já ter retirado as famílias dos hotéis e as encaminhado para residências alugadas pela mineradora. O comentário foi acompanhado de uma reação negativa do público que acompanhava o encontro. Pouco tempo depois, a líder comunitária Izabel Cristina Batista, vice-presidente da associação de moradores do Socorro, afirmou que o prazo estipulado pela Vale não é satisfatório. “Precisamos agilizar isso”, disse.

A incerteza com relação aos prazos é o quem mais incomoda os 492 moradores retirados de casa na madrugada do dia 8 de fevereiro nas comunidades de Socorro, Piteiras, Tabuleiro e Vila do Gongo. O encontro desta segunda-feira deixou isso mais latente. Em um documento formulado pelos removidos, com 22 questões a serem respondidas pela Vale, grande parte se referia a tempo de resolução.

Segundo defendeu a representante da mineradora, o prazo de 90 dias é necessário para que as famílias aceitem os imóveis indicados, sejam vencidos os trâmites burocráticos e para que a empresa faça as reformas nas casas caso haja essa exigência. Flávia também comentou que 23 famílias já deixaram os hotéis e outras 27 já deram o aceite e estão na iminência de se mudarem. Ainda restariam quase 100 famílias a passar pelo processo.

“Esta é uma angústia de vocês e é uma angústia nossa também. Vamos trabalhar para acelerar este processo”, afirmou o gerente-executivo do Complexo de Mariana e Brucutu da Vale, Fernando Carneiro, após a manifestação negativa dos moradores. De acordo com ele, o prazo de 90 dias é apenas uma estimativa que a mineradora fará o possível para tornar mais breve.

A líder comunitária Izabel Batista e outros moradores que falaram durante a reunião pública reclamaram do impacto que a mudança trouxe para as suas vidas. O temor é que os atingidos, sobretudo os mais velhos, sejam abatidos por problemas como depressão e ociosidade. Até mesmo o prefeito Décio Geraldo dos Santos (PV) se queixou dessa situação.

“Graças a Deus que aqui em Barão de Cocais não tivemos que retirar nenhum morto em meio à lama. Mas, se a situação das moradias não for resolvida logo, vamos retirar mortos de dentro dos hotéis”, afirmou, em discurso duro. “Ninguém aguenta mais viver em quartos apertados, sem ter nada o que fazer”, concordou a moradora Izabel.

Gerente-executivo dos complexos Mariana e Brucutu, Fernando Carneiro, falou com moradores – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

Volta para casa?

O encontro em Barão de Cocais foi um requerimento do deputado federal Padre João (PT), que atendeu pedido do prefeito Décio. Além do petista, os parlamentares Júlio Delgado (PSB) e Zé Silva (SD) também estiveram no município durante esta segunda-feira. A mesa de trabalho ainda reuniu membros de entidades, órgãos municipais e movimentos de classe. Convidados, representantes do Ministério Público não compareceram.

Durante a reunião, além de quererem saber sobre a saída dos hotéis para residências alugadas, os moradores removidos também questionaram aos representantes da Vale quando poderão voltar para as suas casas. Fernando Carneiro respondeu que isso só será possível quando a empresa concluir o descomissionamento da barragem Sul Superior. Ou seja, quando ela estiver sem rejeitos e completamente descaracterizada. O prazo para isso? Ainda não há.

O gerente afirmou apenas que neste mês a Vale concluirá o projeto conceitual do descomissionamento. Após a aprovação pelas autoridades competentes, será apresentado o projeto executivo. Somente a partir disso é que será elaborado um cronograma com início e conclusão da retirada completa dos rejeitos. Enquanto isso, a empresa tem adotado medidas para tirar a barragem do nível 2 de risco. Enquanto a estrutura estiver neste patamar, as obras não poderão ser iniciadas.

Ricardo Leão, engenheiro geotécnico da Vale, afirmou que a barragem é monitorada 24 horas por dia com radares e estação robótica. Os técnicos também têm controlado a água das chuvas com bombeamentos, para que não haja maior nível de pressão na estrutura. Equipamentos como piezômetros e geofones auxiliam no controle da estabilidade e vibrações.

Indenizações

O documento com as 22 questões entregue pelo presidente da associação da comunidade de Socorro, José Wilson Magalhães, também pontua a preocupação dos moradores com relação às indenizações. Os removidos, especialmente aqueles em situação de lucros cessantes, que dependem das terras onde viviam para produzir, questionam à Vale quando terão acesso aos valores.

Representantes da empresa disseram que nesta semana concluem junto à Defensoria Pública de Barão de Cocais a matriz de danos relacionada à remoção das famílias. A previsão é de que, caso tudo ocorra dentro dos prazos estabelecidos, que no dia 25 deste mês sejam montados os escritórios para discutir com os atingidos as indenizações.

Até o momento, cada família recebeu R$ 5 mil para despesas extraordinárias e passou a ter direito a uma bolsa de R$ 405, com adição de 20% para cada dependente. Além disso, a empresa também custeará as despesas essenciais dessas pessoas até que retornem em definitivo para suas residências.

Veja mais fotos da reunião pública em Barão de Cocais:

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