Negligência no tratamento da tuberculose pode levar à morte

O dia 24 de março foi instituído como o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. O diagnóstico e o tratamento da doença são realizados pelo SUS. A doença é milenar, mas o preconceito ainda é forte e pode causar fortes impactos na vida de um portador de tuberculose. A negligência durante o tratamento também é […]

Negligência no tratamento da tuberculose pode levar à morte
Foto: Acervo DeFato

O dia 24 de março foi instituído como o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. O diagnóstico e o tratamento da doença são realizados pelo SUS. A doença é milenar, mas o preconceito ainda é forte e pode causar fortes impactos na vida de um portador de tuberculose. A negligência durante o tratamento também é causador de grandes dificuldades no controle da doença, e pode levar o paciente à morte.

“A tuberculose é uma doença que existe há milhares de anos e ainda hoje temos problemas graves. As pessoas que fazem o tratamento, por ser uma doença que as bactérias circulam por muito tempo no organismo, acabam criando resistência, as drogas são fortes e, às vezes, causam problemas adversos. As pessoas acham que essa é uma doença que não mata, mas mata. Geralmente, os pacientes têm outras doenças associadas à tuberculose, mas não dão atenção. As características da tuberculose, à vezes, são as mesmas de outras doenças. Então, até o que paciente ou o profissional de saúde se dê conta e faça um exame com escarro para identificar a tuberculose, passa-se muito tempo”, diz a enfermeira Policlínica de Itabira, Clíssia Peter Andrade Felisberto.

O programa de combate à tuberculose em Itabira passou por reformulação no início do ano. Atualmente, o município tem nove pacientes tratando a tuberculose, cada um em uma fase do tratamento que dura pelo menos seis meses. “Hoje, o nosso maior objetivo, é descobrir o paciente precocemente”, ressalta Clíssia Felisberto.

Em Itabira, deveriam ser avaliados 96 sintomáticos respiratórios – pessoas com tosse por três semanas ou mais) a cada mês, cerca de 1% da população do município. No entanto, até janeiro, antes da reformulação do programa, somente em torno de 12 casos por mês chegavam à Policlínica. “Diante da estatística negativa, a gente visitou municípios que tinham dados exitosos do programa, fizemos um comparativo com o que era feito aqui e, a partir daí, estudando o material fornecido pelo Ministério da Saúde, montamos um plano de ação. Hoje, aproximadamente 33 pessoas sintomáticas respiratórias são avaliadas por mês”, salientou a enfermeira.

Reformulado, o plano de ações contém estratégias a serem realizadas com a participação de parceiros. A proposta é intensificar a busca pelos sintomáticos respiratórios e alcançar os 96 pacientes por mês. Dentre os parceiros estão instituições de ensino superior, a concessionária de transporte público, Pronto-Socorro, presídio, asilo, dentre outras.

Em Itabira, a Policlínica é a unidade de saúde onde é oferecido o serviço de referência contra a tuberculose. Ao ser inserido no programa, o usuário recebe acolhimento das equipes, medicamentos e acompanhamentos pré e pós consulta médica até a cura. Para outras informações sobre a doença, a prefeitura disponibiliza o Programa de Tuberculose. O telefone de contato é o (31) 3839-2870.

 

Enfermeira da Policlínica de Itabira, Clíssia Peter Andrade, alerta para a descoberta tardia de tuberculose pelo paciente

Dia D

Este ano, a Prefeitura de Itabira optou por não instituir o dia 24 de março como Dia D contra a tuberculose. Uma ação maior vem sendo realizada ao longo dos meses de fevereiro e março com o objetivo de conscientizar a população sobre os sintomas e prevenção da doença. “Aquela coisa de você ir para a praça, colocar estande, levar banner e distribuir panfleto, vimos que nos outros anos não teve muita efetividade. Então mudamos a proposta e instituímos este plano de ação e nele estamos trabalhando tentando obter resultado positivo. Não ignoramos o dia 24 de março, mas decidimos estender as ações”, ressaltou Clíssia Felisberto.

Entre as ações, a Secretaria Municipal de Saúde atua junto à Medicina do Trabalho de diversas empresas do município na busca ativa de sintomáticos respiratórios. Um levantamento realizado apurou que Itabira tem 17 mil empresas com o setor de Medicina do Trabalho. O resultado surpreendeu e agora um filtro vem sendo realizado para saber quantas empresas têm o perfil de funcionários ou população envolvida que tenha características de sintomáticos respiratórios para que o plano de ação seja colocado em prática nessas instituições.

Na próxima semana, ações de conscientização serão realizadas no campus itabirano da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e na Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (Funcesi). No dia 28 de março, acontece uma reunião no Programa de Educação Permanente (PEP) com médicos e enfermeiros a fim de conseguir apoio destes profissionais na identificação dos sintomáticos respiratórios.

Tuberculose em Minas

Em 2019, foram notificados, até o momento, 506 casos no estado e 13 óbitos (dados sujeitos à alteração) em Minas Gerais. Em 2018, foram 4.223 casos da doença e 232 óbitos. Ao todo, 549 municípios mineiros, incluindo Itabira, tiveram pelo menos um caso de tuberculose no ano passado.

Nesta semana, a Secretaria de Estado de Saúde lançou o novo Plano Estadual pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública em Minas Gerais. Tendo como meta central orientar as ações de vigilância, assistência e planejamento em saúde no controle da tuberculose, o programa apresenta uma série de propostas efetivas para o enfrentamento da doença no estado em diversas frentes. A previsão é que o plano seja implantado ao longo da atual gestão, com o acompanhamento e cumprimento de metas e objetivos anuais.

A doença e o tratamento

A tuberculose é uma doença infecciosa e contagiosa causada por uma bactéria que afeta principalmente os pulmões, mas também pode atingir outras partes do corpo. A doença é transmitida de pessoa para pessoa pelo ar, quando um doente tosse, espirra, canta ou fala mais alto. A tosse com duração de três ou mais semanas é um dos sintomas principais, acompanhada ou não de febre ao final da tarde, suor noturno e emagrecimento. Na vigência desses sintomas, é importante a pessoa procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima da sua casa para ser avaliada.

O tratamento é longo, tem reações adversas e o paciente precisa comparecer à unidade de saúde para o acompanhamento mensal – tanto para coleta de novos exames, quanto para avaliação do médico.  Seis meses é o protocolo para o tratamento, mas se tiver alguma intercorrência nesse período, o prazo pode se estender. Em alguns casos, ao iniciar com a medicação o paciente sente uma melhora e opta por interromper o tratamento. O que prejudica o tratamento. “Tem que trabalhar muito o psicológico do paciente, explicar que ele precisa terminar o tratamento. Então, a nossa maior dificuldade é acolher e manter o paciente no programa até o final”, ponderou a enfermeira.

A doença tem cura e, para o êxito do tratamento, é importante que o paciente tome os medicamentos de forma regular e no tempo previsto. Qualquer um pode ter tuberculose, mas alguns grupos são considerados mais suscetíveis à doença. Entre eles estão as pessoas com o vírus HIV/AIDS, diabéticos, pessoas em situação de rua ou privadas de liberdade, indígenas e quilombolas.

“O maior desafio é quebrar o preconceito que tanto os profissionais de saúde e pacientes têm em relação à doença. É uma doença quase que esquecida pela população e pouco relevada, tanto pelos profissionais de saúde, quanto pela população. Quanto mais tempo você demora a iniciar o tratamento, mais lesões e consequências vai ter. Tuberculose tem cura, mas também mata. Pode atingir outros órgãos além do pulmão e pode levar a consequências graves, até a morte”, finalizou a enfermeira.

Uma estratégia global para enfrentamento da tuberculose, proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), propõe a erradicação da doença até 2035.

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