Legado de Michael Jackson ainda rende bilhões mesmo após 10 anos da sua morte

No ano passado, Drake lançou uma música com Michael Jackson. “Don’t Matter To Me”, com vocais inéditos gravados em 1983, não é exatamente uma novidade –Michael já teve álbuns póstumos lançados–, mas chama atenção que o artista que mais discos vendeu no ano passado esteja recorrendo ao arquivo de alguém que morreu há dez anos, […]

Legado de Michael Jackson ainda rende bilhões mesmo após 10 anos da sua morte
em Bankok

No ano passado, Drake lançou uma música com Michael Jackson. “Don’t Matter To Me”, com vocais inéditos gravados em 1983, não é exatamente uma novidade –Michael já teve álbuns póstumos lançados–, mas chama atenção que o artista que mais discos vendeu no ano passado esteja recorrendo ao arquivo de alguém que morreu há dez anos, exatamente no dia 25 de junho de 2009.

Em março, estreou na HBO o documentário “Deixando Neverland”, com novas denúncias de pedofilia contra Michael. Numa decisão bastante representativa do que se tornou a relação com o legado do rei do pop, Drake aderiu aos chamados de boicote da internet e parou de tocar a música, enquanto ela segue acumulando milhões de plays no streaming. Essa situação de sucesso de público e linchamento moral é o que o espólio de Michael tem passado na primeira década após a morte do astro.

O cantor deixou uma dívida em torno de US$ 500 milhões. Ao fim de 2016, os administradores dos negócios do artista já haviam arrecadado mais de US$ 1,3 bilhão. “Ele ganhar muito dinheiro depois de morto tem a ver com o que fez em vida, como comprar parte do catálogo dos Beatles”, diz Zack Greenburg, editor da revista americana Forbes. Nos últimos anos, Michael tem dominado a lista de celebridades mortas que mais lucram, segundo a publicação.

Greenburg também cita as negociações com o espólio do artista, que inclui a venda da fatia de Michael do catálogo dos Beatles, um novo acordo com a Sony e parcerias com o Cirque du Soleil. Além disso, o documentário “This Is It” (2009) arrecadou mais de US$ 260 milhões. Os dois álbuns póstumos, “Michael” (2010) e “Xscape” (2014), mesmo sem um desempenho espetacular, renderam pelo menos um grande hit: “Love Never Felt So Good”, com Justin Timberlake. “Michael continua gerando apelo equiparável ao nível de consumo que ele tinha antes”, afirma Greenburg. Nos cinco anos posteriores à sua morte, ele vendeu mais de 13 milhões de discos, contra menos de 4 milhões nos cinco anos anteriores.

A maior batalha do espólio de Michael tem sido nos tribunais. Mesmo inocentado, em 2005, das acusações de abuso infantil, a imagem do astro vem sendo manchada desde a década de 1990. Uma das pessoas que resolveram falar sobre o passado com Michael foi Xuxa. Ela disse ter sido “convidada” para ser mãe de filhos do cantor. Ele queria alguém “saudável” e que “gostasse de criança”. “Deixando Neverland” representa o choque da era #MeToo com um dos artistas fundamentais do século 20. Suas quatro horas de narrativa apresentam relatos perturbadoramente ricos –com descrições dos supostos encontros sexuais–, tudo baseado só nos depoimentos de seus acusadores.

Não há ali documentos ou outras evidências. O diretor, Dan Reed, aposta na versão das supostas vítimas–Wade Robson, James Safechuck e seus familiares– e imagens de arquivo misturadas com cenas ilustrativas do famoso rancho Neverland. Chocante o suficiente para causar indignação, “Deixando Neverland”, contudo, reforçou a polarização. A família de Michael já processa a HBO, exigindo US$ 100 milhões, e os fãs refutam as histórias, apontando incoerências no filme. Em março, brasileiros foram à Paulista em defesa do ídolo.

Com a apresentadora Oprah Winfrey contra e o ator Macaulay Culkin a favor, Janet Jackson, uma das irmãs de Michael, rompeu o silêncio depois da estreia de “Deixando Neverland”. “Seu legado vai continuar”, ela disse. Se algumas rádios pararam de tocar músicas do astro e as redes sociais ainda são hostis para seus defensores, o boicote, em geral, não teve grande efeito. Logo após a exibição do filme na HBO, aumentaram as vendas de álbuns e os acessos de Michael no streaming.

No centro do debate, está uma das questões fundamentais da atualidade: é possível separar a obra do artista? É como se Michael –uma entidade quase não humana– já estivesse tão incrustado na nossa cultura que talvez seja impossível apagar sua imagem. A sensação, na verdade, é a de que, se não for cancelado pela internet, Michael Jackson vai se tornar uma figura ainda mais mitológica, para o bem e para o mal. O editor da Forbes diz que, “apesar das controvérsias, ele seguirá entre as celebridades que mais faturam –neste mundo ou no próximo”.

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